O primeiro Edifício dos Correios
foi instalado em 1876, no térreo dos Telégrafos, na Praça São Salvador. Feydit
(p. 478) assinala, recordando a história dos telégrafos em Campos: A 02 de
dezembro de 1869 foi inaugurado o telégrafo ligando Campos ao Rio de Janeiro; A
02 de abril de 1870, também foi inaugurada a linha telegráfica entre Campos e
São João da Barra; Em 30 de agosto de 1874, principiou a funcionar a linha
telegráfica Campos a São Sebastião.
Sobre
o assunto, o historiador faz o seguinte comentário sobre este avanço, à época,
no campo das comunicações:
“A
eletricidade que fundia as cruzes dos templos, matava os que neles se
escondiam, com receio do trovão; esse fluido que despejava o rio destruidor, o
deu terrível dos Goytacazes, o Tupã, tornou-se obediente nas mãos dos
telegrafistas; Desde então quantas notícias úteis e quantas mentiras não nos
tem transmitido”.
Todavia,
segundo registro (op. cit. p. 345), em 1798 foi estabelecido o correio em
Campos; no livro de registros da Câmara Municipal, a folha 167, se acha a
provisão seguinte:
Dona
Maria por graça de Deus Rainha de Portugal, etc. Faço saber ao coronel José
Caetano de Barcelos Coutinho, comandante da Vila de Sam Salvador, Goitacazes,
que atendendo a boa informação que me destes pelo Tribunal da Junta de minha
Real Fazenda do Rio de Janeiro na data de 11 de julho, de Vicente José Faro, e
de Manoel Rodrigues da Costa Silva. O primeiro para administrador e o segundo
para Ajudante do Correio que em ofício de 16 de junho mandei criar nesta vila e
esperando que eles desempenhem com todo o desvelo as obrigações de que se acham
encarregados (...)
Feydit
(p. 346) narra a primeira viagem do estafeta, dando início ao trabalho do envio
de correspondência para a sede da Colônia:
(...)
Em 05 de dezembro de 1798, que era uma quarta-feira, saída de Campos o primeiro
estafeta, continuando a sair de 15 em 15 dias, tanto do Rio de Janeiro como da
vila de São Salvador, sempre às quartas-feiras. O porto de cada carta era 480
réis e o maço de autos das apelações criminais ou cíveis 6.400 réis. Para que
chegasse a notícia chegasse a todos a Câmara, por ordem do coronel de milícias,
José Caetano de Barcellos Coutinho, mandou lançar bando toque de caixa pelas
ruas da vila (...)
O
correio funcionava na Rua do Conselho (atual Rua João Pessoa, entre a Rua 13 de
Maio e do Sacramento). Outro registro interessante (p. 347) é sobre o destino
do primeiro estafeta, Miguel Fernandes Cataia.
A
28 de Março de 1879, faleceu por causa de uma queda do cavalo, com mais de 100
anos de idade, o estafeta Miguel Fernandes Cataia. Nessa queda fraturou o velho
Cataia uma perna. Fazia 81 anos e três meses que ele, e companhia de seu pai,
havia feito a primeira viagem conduzindo as malas de Campos para o Rio de
Janeiro, a 5 de dezembro de 1798, quando inaugurou o Correio em Campos.
Praça de São Salvador
A
Praça do Santíssimo Salvador antigamente chamava-se Praça Principal, mas até
1830, só era denominada pelo único nome de Praça, porque até então não havia
outra, como registra Júlio Feydit em seu livro “Subsídios para a História de Campos dos Goytacazes” (p. 180).
Ayres
Cabral (apud Feydit), escrevendo
sobre a Vila de São Salvador, diz em uma nota da página 42 de sua Corographia Brasilica: “Salvador Correa
mandou fundar no seu terreno, em 1652, uma ermida dedicada a São Salvador, e
entregou-a ao cuidados dos MM. Beneditinos, fazendo-os de mais a mais (e bem injustamente) juízes
eclesiásticos”. O grifo é do próprio
Feydit, que se posicionava contrário à posição de beneditinos e jesuítas na
questão fundiária na antiga Vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes.
(Página 258).
Na
página 260, Feydit assinala: “Vamos retificar alguns pontos que com foros de
verdade correm impressos em relação à história de Campos dos Goytacazes”. E
cita:
“(...)
A Matriz de São Salvador foi edificada em 1948, e não em 1652, o que se conclui
do requerimento apresentado em vereação de 3 de abril de 1653, e por nós já
transcrito”. Com isso fica clara a idéia de que o “terreno” (lugar da praça) já era usado com este
fim no século XVII e a igreja, sua principal edificação, provavelmente começou
a ser construída em 1648 sendo inaugurada (três anos depois) em 1652, não
havendo nenhuma contradição histórica (...).
Em “Notas sobre Fundação do Município de Campos
dos Goytacazes” (Org. Carlos Roberto Bastos Freitas), constam as seguintes
informações, a partir do registro feito
por José Martins Fernandes, em “História
do Descobrimento e Porovação da Cidade de São João da Barra e dos Campos dos
Goytacazes” (Rio de Janeiro, 1868).
(...) Ainda
assim, em princípios de 1648, houve uma nova partilha de terras. Através desta,
o poder eclesiástico solidifica sua presença na então capitania de São Tomé,
nos campos dos Goytacazes. A igreja passou então a fazer parte do processo de
colonização da dita região, e, consequentemente, a ter grande influência nos
seus acontecimentos. E essa representação era de extrema importância em um
período em que a Igreja Católica detinha grande influência perante a Coroa e a
Sociedade.
E vai além ao
afirmar:
(...) Quando
tem início a colonização alguns moradores passaram a fixar-se na margem do Rio
Paraíba e quiseram eles construir a primeira Matriz na atual Praça São
Salvador. Não havendo aceitação por parte dos índios, uma vez que se
encontravam enterrados ali seus
antepassados. Dessa forma, constroem em 1648 a primeira igreja matriz onde hoje
é a Igreja de São Francisco. Há relatos de que em 1648 havia uma tosca capela
coberta de palha e alguns casebres em áreas próximas. Segundo Vivaldo Coaracy:
“Salvador Correa de Sá mandou fundar no
seu terreno, em seiscentos e cinquenta e dois, uma ermida dedicada a São
Salvador, e a entregou aos cuidados dos monges beneditinos (...)”,
confirmando o que descrevera o históriador Julio Feydit.
Em 1652, de
acordo com Lamego, a Capitania de São Tomé contava com um número de 70
moradores (livres), que sentiram a necessidade, para uma maior organização, de
erigir a Vila de São Salvador e de ter um representante da Coroa mais próximo
do que a comarca de Cabo Frio, pois a sua Câmara Municipal (de Cabo Frio) se
localizava distante para resolver as questões da região.
Este pedido é
deferido pelo Ouvidor-Geral, João Velho de Azevedo. Ao ver a petição deferida,
fazem (os moradores) no mesmo ano uma eleição para a Câmara, e esta realizou a
sua primeira sessão em 1º de janeiro de 1653, legitimando a criação da vila, permanecendo
três anos e a câmara oficial somente surgiu depois da criação da vila, em 29 de
Maio de 1677.
Durante sua
história, a praça principal passou por várias transformações, mas permaneceu o
desenho mais antigo, provavelmente copiado dos largos portugueses. É uma pena
que, pela falta de consciência preservacionista, a maioria dos prédios da Praça
tenha sido demolida, como os do Banco do Brasil, dos Correios, da Associação
Comercial, a Casa da Câmara e Cadeia, o Hotel São Salvador, a casa onde nasceu José
do Patrocínio (residência do Vigário João Carlos) e, principalmente, o cais do
Porto das Barcas, junto à Avenida Rui Barbosa (antiga Rua do Imperador).
De qualquer
forma, a própria praça sofreu intervenções importantes com a Reforma
Urbanística do sanitarista Saturnino de Brito, iniciada em 1902, dando ao
centro da cidade, a partir de 1906, um ar de museu a céu aberto expondo o maior
conjunto eclético do interior do Estado, só perdendo para o centro do Rio de
Janeiro, fruto da reforma de Pereira Passos (1904). Outras agressões ao
conjunto ocorreram durante as reformas produzidas pela empresa Coimbra Bueno
nos idos dos anos 40.
Pesquisa sobre o Centro Histórico
O
centro histórico da cidade de Campos dos Goytacazes foi praticamente
consolidado, a partir do Plano Urbanístico do sanitarista Francisco Rodrigues
Saturnino de Brito, planejado em 1902, muito embora as obras de organização
urbana somente tenham sido iniciadas após 1906, como registra a pesquisa da
Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria, no texto “As reformas urbanas de Campos e
suas contradições”.
Ela
cita, em sua pesquisa, que havia, além da reformulação urbanística, a
necessidade de resolver questões d falta de saneamento, responsável pelas
epidemias, como a peste bubônica, que assolou o município, situação agravada
pela grande enchente verificada naquele ano, resultando em inundações, o que
levou o médico Dr. Benedito Pereira Nunes, idealizador da “cidade saneada”, a
observar que, em 1906, nada tinha sido feito com relação ao projeto de Saturnino
de Brito. E fez o seguinte discurso, publicado na Gazeta do Povo, solicitando a
intervenção do Governo Federal:
Em 1901, quando presidia a Câmara
Municipal de Campos, eu disse que, realmente, Campos, doada de uma natureza e
de situação topográficas excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da
Paraíba se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação
colonial numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheia de
casebres obscuros e insalubres, criando, assim, um ambiente de condições
idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres
que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos alugueis,
confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene,
legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco
escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos,
verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas.
Tetê
Peixoto assinala: E é o próprio prefeito Ferreira Landim que, em novembro de
1906, anuncia, em discurso também publicado no mesmo jornal, no qual fala nas
dificuldades para colocar a arquitetura de suas habitações de conformidade com
os novos modelos em difusão: “O problema
de salubridade das habitações exige, mais do que nunca, a atenção do poder
municipal. É necessário melhorar as condições de higiene das casas, transformar
o sistema de edificações, expurgar a cidade dos velhos casebres, focos de
infecções de toda a espécie – da tuberculose e da peste, principalmente. No ano
passado, fiz demolir nos termos da lei, 45 desses velhos pardieiros e as
enchentes completaram, em parte, esta obra de saneamento (...)”. A reforma
urbana na cidade de Campos dos Goytacazes obedecia, em tese, ao que era feito
no Rio de Janeiro, nos tempos de Pereira Passos, por volta de 1904.
Da
lista de demolições de velhos edifícios, publicados em seu trabalho, que
parecem prejudicar a imagem da cidade constam 32 demolições e foram condenados
16; construíram-se nove casas novas; 18 foram totalmente reconstruídas, e 16
parcialmente; foram feitos 48 grandes reparos e 217 pequenos reparos. E o Dr.
Pereira Nunes, condenou a cidade “velha”, segundo ele, invadida por ratos. E
reafirma que “Campos reclama de medidas como impermeabilização do solo e a abertura
de áreas de circulação”,
No
documento, a pesquisadora salienta (...) O velho tecido urbano é transformado,
progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da
cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da
economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo
do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma
imagem de modernidade.
E
ele descreve algumas mudanças operacionalizadas com as reformas do Plano
Saturnino de Brito: “As Ruas: 21 de Abril, Sete de Setembro, Constituição (Rua
Alberto Torres) e Formosa (Tenente Coronel Cardoso) foram alargadas; a antiga
Praça das Verduras (Praça do Chá-Chá-Chá) foi urbanizada e transformada em
praça de lazer; a Praça São Salvador, já com belo jardim, é ornamentada com uma
fonte, os edifícios se renovam como o Renne, o Café High-Life,m Bom Marché e
novos edifícios surgiram, como o do Banco do Brasil (1910), Associação
Comercial de Campos (1913), Correios e Telégrafos e sede da Lira de Apolo
(1917) e o antigo Teatro Trianon (1921). Desses citados, somente sobreviveram o
Renne (com mudanças nos anos 50) e a Lira de Apolo (ora em restauração).
Hoje,
o conjunto de obras ecléticas, o maior do interior do Estado, praticamente está
restrito às Ruas: 21 de Abril, Santos Dumont, Teotônio Ferreira de Araújo
(antiga Barão de Cotegipe), Praça do Santíssimo, Sete de Setembro, 21 de Abril,
Avenida Rui Barbosa, Rua 13 de Maio (antiga Rua Direita) e Rua Formosa (Tenente
Coronel Cardoso), embora existam outros espécimes da época espalhados por
outras artérias da cidade, atingindo até bairros mais distantes e em alguns
distritos, como Goytacazes, Dores de Macabu, Murundu, Santa Bárbara, Vila Nova,
Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. Só para citar alguns...
O
centro histórico de Campos é, com outros avanços ocorridos nos anos 40, por
intervenção da empresa Coimbra Bueno, nos tempos áureos do Prefeito Salo Brand,
que era engenheiro, o que estabelece a Lei (Plano Diretor) 7.972, de
30/03/2008, quando se inicia, embora tardiamente, a se adotar uma política de
preservação do patrimônio Histórico e Cultural do Município, cuidando de suas
instâncias materiais e imateriais.
Inventário em: 27 de Abril de
2015.
Fotografia: Valdimir da Silva
Salino
Responsável: Orávio de Campos
Soares
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